Desde aquele dia

   Concordei. Então era isso. Cinema as 19 horas. Pouco tempo para eu me arrumar. Pouco tempo para reencontrar Gustavo. E pouco tempo para resolver o que há meses está pendente. 

 
   Gustavo e eu nos conhecemos no final do Ensino Médio. Existe amor a primeira vista. No nosso caso, foi amizade a primeira vista. Nos demos bem logo de cara. Em pouco tempo passei a frequentar a casa dele sem aviso prévio e ele a minha, conversávamos abertamente sobre qualquer assunto, chegamos a dormir na casa um do outro várias vezes.Tudo isso parecia normal, até que minha visão sobre ele mudou. De repente Gustavo havia se tornado interessante no meu ponto de vista. E quando percebi, estava apaixonada por ele.

   Nunca fui de ter muitos amigos, então guardei aquilo só para mim. Expor meus sentimentos para ele poderia me custar a única amizade verdadeira que tinha. Mal sabia que pouco tempo depois, tudo iria mudar.

   Já era madrugada. Gustavo e eu estávamos voltando de uma festa em um sítio de um colega de turma, quando o carro começou a falhar. Era um lugar estranhamente isolado, onde não havia sinal para pedirmos ajuda. Chovia forte e os poucos motoristas que passavam, mal conseguiam nos enxergar. A única opção que tínhamos era esperar a chuva passar para ver o que poderíamos fazer.

   Ele disse alguma besteira que costumava dizer e que sempre rendia boas gargalhadas. Mas, enquanto recuperava o fôlego, notei algo em seu olhar. Poderia estar enganada, mas aquele não parecia um olhar de amigo. Havia algo a mais. Ah sim, havia. O sorriso em seus lábios foi desaparecendo lentamente e se aproximou. Tanto que passei a confundir minha respiração com a dele.

   Mão no rosto. Lábios.

   Beijo.

   Na verdade, bem mais que isso.

 

   Continua...