Meu best seller chamado vida

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   Minha vida sempre foi um livro aberto. Eu, na minha fascinação por narrativas, amava contar tudo nos mínimos detalhes e fazer com que quem ouvisse se colocasse no meu lugar e sentisse o mesmo que eu senti em tal momento. Aliás, no fundo eu sempre achei que minha vida realmente fosse um livro e eu me considerava a personagem narradora de tudo e meus amigos eram os leitores dessas minhas aventuras contadas. E elas nem sempre foram das mais bonitas. Já passei por muita coisa, coisas que eu não desejaria nem pra pior pessoa da terra. E não me perguntem de onde tirei forças pra aguentar tudo o que passei.
   "Mas e daí?" - Eu pensava. As pessoas a minha volta não precisavam saber o que me machucava de verdade. Contava as melhores histórias, mas deixava as que realmente doíam de lado. Até que encontrei pessoas que me estenderam as mãos o bastante pra que eu confiasse cegamente nelas. E a partir daí fui me abrindo, mas evitava compartilhar o que realmente me angustiava. Ao invés disso ficava calada. Chorava pelos cantos, mas de forma alguma deixava as pessoas em volta perceberem. Me recompunha e voltava para perto dos meus amigos disposta a ajudar no que fosse preciso.
   E isso pra mim era "bom". Mascarar os problemas ou trancá-los num baú distante da minha mente era bem mais fácil do que ter que encarar. Algumas vezes não conseguia disfarçar e as pessoas a minha volta me perguntavam o que eu tinha. Eu respondia que não era nada, porque não era aquilo que eu queria ouvir. E com certeza nem o que eles queriam perguntar, pois logo depois de ouvir que eu supostamente estava bem, viravam as costas como se tivessem escutado que o que queriam comprar era caro demais e iria procurar em outra loja. Nada de abraços ou de "fique bem, estou aqui por você". Não. Somente julgamentos. Só "Ela está estranha". Mas poucos eram os que realmente queriam ajudar. Alguns, que se diziam companheiros de qualquer hora, simplesmente olhavam e diziam para quem estava perto para deixarem pra lá, pois me conheciam e sabiam que logo iria passar. - Imaginem o quanto era gostoso ouvir isso.
   As coisas ficaram piores quando minha confiança superou o limite da zona de conforto. Passei a compartilhar coisas do mais fundo dos meus sentimentos e conflitos. E hoje em dia me pergunto o por que fiz isso, já que jogaram essa tal confiança (que é de vidro, ao menos a minha) morro abaixo.
   Por essas e outras resolvi mudar. Se não estou bem, demonstro. Não porque quero que alguém sinta pena de mim, mas porque não sou um poço de fortaleza. E se fingir de forte dói mais do que tentar se recuperar aos poucos. Também não grito mais aos quatro ventos tudo o que acontece comigo. Continuo amando e me divertindo quando conto minhas histórias para as pessoas e elas se maravilham com o que passo. Mas passei a colocar um limite no que é benéfico ou não.
   Não estou dizendo pra ninguém parar de confiar nas pessoas a sua volta, de forma alguma. Eu ainda tenho os poucos seletos que sei que não vão me decepcionar. Esses que me estenderam as mãos quando todo mundo virou as costas. E com eles eu sei que posso contar sempre. O que estou tentando dizer é que a vida de ninguém precisa ser um livro explicitamente aberto. Nenhum best seller tem todos os mínimos e minuciosos detalhes contados em suas páginas.
 




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