E eu apenas sorri.

19:27



 
   Era apenas mais uma manhã normal.

  "Não quero me levantaaaaaaar" - Pensei com o sol se esforçando ao máximo para abrir meus olhos. A agência precisava de mim. Na verdade eu precisava mais dela do que o contrário. Encontrar aquele emprego, com a pouca experiência que eu tinha, foi uma tremenda sorte. Não podia pisar na bola.

   Assim que cheguei ao banheiro, o celular fez seu clássico barulhinho de mensagem. Torci para ser algo do tipo: "Férias adiantadas em reconhecimento do seu esforço! Nos vemos mês que vem!". Mas não. Era só mais uma forçada "Sorte do Dia", que eu nem havia contratado, mas que insistiam em me enviar. Não, eu não acreditava nesse tipo de coisa. Mas me divertia quando, ao final do dia, percebia que nada do que estava previsto ou as dicas que deram, funcionaram.

   Eu também nem me esforçava para segui-las...

   "A dica de hoje é: sorria! Sorrir pode mudar seu dia! Não feche a cara, alguém pode se apaixonar pelo seu sorriso. Quer receber mais previsões para o seu dia? Envie SIM e tenha todos os dias em seu celular, mensagens de otimismo! Apenas R$4,99 por mês!"

   Acho muito engraçado a forma como dicas de sorte e horóscopos são abrangentes. Qualquer um pode sorrir, ter um dia bom, conhecer pessoas novas, independente do que os astros digam ou não.

   Joguei meu celular na cama e fui me arrumar. Em pouco tempo estava pronta. Com uma cara de sono terrível, mas ao menos estava pronta.

   Consegui pegar o ônibus a tempo, apesar de todo meu atraso e preguiça. Fiquei surpresa por conseguir encontrar um lugar vago naquele horário. Já estava distraída, com o fone no ouvido, quando novamente recebi uma mensagem.

    "A dica de hoje é: sorria! Sorrir pode mudar seu dia! Não feche a cara, alguém pode se apaixonar pelo seu sorriso. Quer receber mais previsões para o seu dia? Envie SIM e tenha todos os dias em seu celular, mensagens de otimismo! Apenas R$4,99 por mês!"

   "Coincidência demais..." - Pensei. E foi aí que resolvi seguir o tal conselho. De uma forma torta, admito.

   Desci do ônibus sorrindo para o sol. Depois, para um cachorro. Sorri para a primeira pessoa que passou por mim. E para a minha surpresa, fui correspondida. Era uma senhora, lá pelos seus 80 anos de idade, com as marcas do tempo estampadas em seu rosto, mas que mesmo assim não perdeu a alegria nos lábios. Aquilo me fez perceber o quanto a vida passa rápido e o quanto nos tornamos amargos com o passar do tempo. E foi ai que resolvi levar o tal conselho a sério.

   Durante o dia me surpreendi com o quanto um sorriso pode mudar o dia de alguém. Na agência, no restaurante em que almocei, na livraria depois do almoço... Apesar de algumas fecharem totalmente a cara, uma boa parte das pessoas retribuíram meu sorriso. Quando eu olhava para trás, algumas delas ainda sorriam. E aquilo me fez ganhar o dia.

   Final de tarde. Cheguei no ponto de ônibus mais cedo do que o de costume. Ao meu lado, pessoas cansadas depois de um dia exaustivo, olhando no relógio de 1 em 1 minuto, na esperança de que seu coletivo passasse logo. Mas alguém ali me chamou a atenção. Era um homem, na ponta do outro banco, com idade próxima a minha, que olhava insistentemente para as horas e depois para o lado contrário da rota normal dos ônibus. Ou ele era muito distraído, ou sua preocupação não era exatamente o tal transporte (hipótese mais provável).

   Olhou mais uma vez para o relógio, balançou a cabeça e não escondeu o ar de decepção. Parecia uma das cenas costumeiras de comédias românticas em que alguém fura um encontro.

   Só fui perceber que o observava além dos limites quando ele olhou me todo confuso. Achei que fosse por eu estar o encarando por tanto tempo, mas só ai fui notar que o sorriso do dia inteiro ainda estava congelado em meu rosto. Porém não foi forçado como a maioria do restante do dia. Foi tão natural que eu ao menos percebi.

   O tal homem moreno me encarou por alguns segundos e olhou novamente para o pulso. E de repente começou a sorrir.

   "-Só estou admirando... Sabe, é um relógio novo..." - Disse, tentando ser engraçado.

   E então nós rimos. Juntos. Não uma risada qualquer. Uma risada sincronizada, que teve muito mais sentido que qualquer conversa.

   Escutei o barulho dos freios de um ônibus. Era o meu. Era hora de ir para casa.

   "Belo relógio." - Brinquei, já entrando no ônibus.

   Ele sorriu. Eu sorri. No dia seguinte sorrimos juntos. Nas semanas seguintes também. No primeiro encontro, vários deles. Gargalhadas ao contar as histórias mais bizarras de nossas vidas. No primeiro beijo, um enorme que não cabia em mim.

   É. Eu apenas sorri.







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